sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Gestão de Produtos Plásticos

As questões ambientais adquiriram nos últimos anos lugar central no discurso e na agenda de trabalho de diferentes segmentos da sociedade (CALLENBACH, et al, 1993; COHEN, 2001, HANSEN, SCHRADER, 1997; HART, 2005). Ativistas ecológicos, organizações não-governamentais, movimentos sociais, governos, pesquisadores, empresas e consumidores têm se mostrado cada vez mais preocupados com as posturas e práticas ambientais de indivíduos, grupos sociais e instituições, e sobre suas responsabilidades quanto aos impactos no meio ambiente (KAZAZIAN, 2005; MANZINI, 1998; MURPHY,2001). Intensos debates e controvérsias teóricas e políticas emergem nesse cenário.
Um dos temas ambientais mais destacados nessa agenda de discussão refere-se aos resíduos, sobretudo nos grandes centros urbanos (BERTHIER, 2003; SITARZ,1994). Nos anos 80, houve um crescimento da busca por alternativas para reduzir a quantidade de lixo, verificando-se uma crescente preocupação com o destino da embalagem após o consumo (AMADEU, et al, 2005; BERTHIER, 2003; PIETERS, 1991). A redução nos ciclos de vida dos produtos, fruto da velocidade da mudança tecnológica e de comercialização, tem provocado o aumento do descarte de produtos. Assim, a necessidade de equacionar o destino das embalagens e seus materiais constituintes, após o uso original e a sua disposição final é crescente nas últimas décadas (LEITE, 2003; SITARZ,1994; ZIKMUND, STANTON,1971). Milhões de dólares são gastos em logística, distribuição e marketing visando estimular um aumento do consumo de embalagens (PALHARES, 2003). Na verdade, a embalagem tem sido o principal ponto de discussão de políticas públicas e grupos ambientalistas rumo a solução do gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos. De um ponto de vista mais amplo, a embalagem não é somente o invólucro para um produto, ela representa a filosofia ambiental da empresa (WASIK, 1996).
Esse processo gera um grande impasse sobre quem é o responsável pela gestão do fim da vida da embalagem (KAZAZIAN, 2005). Enquanto em alguns países da União Européia esse embate levou a legislação e a própria iniciativa empresarial a assumir como responsabilidade por todo o ciclo de vida dos produtos que gera, em outros países, permanece um vácuo. No caso brasileiro, a própria sociedade, através de iniciativas como as das cooperativas e de organizações não-governamentais, assume o ônus e alguns bônus da reciclagem de embalagens. No entanto, permanece o debate sobre o papel da indústria de embalagens, da indústria dos produtos embalados, dos governos e dos consumidores nesse processo. Como pode-se perceber, múltiplos atores e interesses compõem o mosaico da gestão do ciclo de vida de embalagens, tornando a análise desse objeto mais complexa e relevante.
Diferentes estudos e publicações científicas têm analisado variados fenômenos relacionados à geração, coleta, disposição e reciclagem do lixo urbano (BERTHIER, 2003; PIETERS, 1991). Zanin e Mancini (2005) listam 28 universidades e centros de pesquisa brasileiros, com forte concentração na região Sudeste, que desenvolvem investigações relacionados à reciclagem e reutilização de resíduos sobretudo, com o foco no desenvolvimento tecnológico. Outra parcela relevante das pesquisas desenvolvidas no ambiente acadêmico, analisam políticas públicas de tratamento dos resíduos e dos atores envolvidos no equacionamento do problema (AMADEU, et al, 2005; GRIMBER, BLAUTH, 1998; COHEN, 2001; SIARTZ, 1994). Menos freqüente são as pesquisas e a literatura voltadas às discussões da gestão do fim da vida de embalagens. Se este tipo de estudo tem sido raro na literatura brasileira, por outro o volume de resíduos sólidos gerados, sobretudo no lixo urbano, é cada vez mais preocupante e o ciclo de vida das embalagens marcadamente mais curto.
Tal discussão, desta maneira, pretende promover um diálogo entre os campos dedesign, sustentabilidade e ciclo de vida das embalagens; procurando avançar na compreensão das possibilidades, desafios e dilemas da gestão do fim da vida das embalagens, ênfase especial é dada às embalagens plásticas devido ao volume crescente nos resíduos sólidos dos domicílios. Com múltiplas ampliações na produção industrial, o plástico, vem se tornando, nos últimos anos, alvo de disputa entre catadores, objeto de interesse por parte de empresas recicladoras e transformadoras, estratégia preferencial de embalagem para indústria alimentícia e presença constante no cotidiano dos consumidores. Ora visto como receptáculo de produtos avidamente consumidos, ora como grande vilão dos problemas ambientais, ou ainda, como atrativa fonte de renda para os envolvidos em sua reciclagem, as embalagens plásticas colocam importantes desafios para o entendimento da revalorização ao fim de sua vida e para as possibilidades de avanço de práticas no âmbito do design.

                         Reflexões, dilemas e responsabilidades relativas ao fim da vida de embalagens 
                                                                                                         Sylmara  Gonçalves-Dias
                                                                                                       Universidade de São Paulo
Google em 27/11/2013 

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